quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Mensagem aos visitantes

Queridos visitantes,
Fiz questão de estrear meu blog postando o meu primeiríssimo texto, este aí abaixo. Quando me dei conta de que muita gente se sentiu tocada ao lê-lo, aí eu pensei: "É isso, vou fazer mais, porque me fez um bem danado!". Até porque também uma pessoa muito próxima, a quem eu quero muito bem e que é médium fortíssima, me encorajou a escrever, porque me falou que tenho o dom da escrita. Que seja então. Sem pretensão de nada além de fazer com que as pessoas se identifiquem de alguma forma com meus artigos, escrevo-os com a alma, sorrindo ou chorando copiosamente, e assim eles vão saindo. Mas não é sempre no momento que quero. Eles dão o ar da graça somente quando estou preparada. Todos os meus textos, pelo menos até agora, são vivências minhas ou minha visão ante as experiências de amigos mais próximos. No decorrer de nossos encontros, irei postando de tudo um pouco. De textos, poesias e artigos de outras pessoas, fotos, imagens que me tocam... enfim. Uma miscelânea. Aqui, estará impressa a minha alma e o que acho de mais belo e que merece ser compartilhado.
Um beijo na alma de cada um. Paz e bem.
Maria Bonita Online

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sinal vermelho: o tempo de uma lição de vida


Por Maria Bonita Online


Você já parou para se perguntar qual a duração de um sinal vermelho? Imagino que não. Muito menos para saber o que você pode aprender neste quase piscar de olhos, afora o stress que te faz lembrar automaticamente da música “Sinal Fechado” do Paulinho da Viola: “...me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios...”

Quanto tempo dura um sinal fechado? 45 segundos? 1 minuto? Não importa! Até porque, dependendo da localização deste sinal, os tempos variam, mas nunca passam de um relativo curto período, apenas um fragmento em nossa tão atribulada vida.

O que relato a seguir, de fato se passou comigo. Para quem acha que o tempo de um sinal vermelho é sinônimo de atraso de vida, eu falo com conhecimento de causa que foi devido a este mesmo sinal vermelho que comecei a encarar certas coisas de uma outra forma, acordada! A seqüência de acontecimentos neste dia prova que eu realmente deveria estar ali, naquela hora, naquele lugar, naquele sinal...

Há pouco mais de um ano, quando ainda morava no Rio de Janeiro, eu estava hospedada na casa de uma amiga, na Barra da Tijuca (zona oeste), bastante longe de minha casa, que era no Flamengo (zona sul). Estava atravessando um mar de problemas, longe de minha família, sem emprego e sem perspectivas. Foi um período em que as coisas não estavam dando certo pra mim, e eu começava a me sentir a mais infeliz das criaturas.

Meu pai – meu velho anjo da guarda - me ligou dizendo que havia posto uma quantia em minha conta. Fui pegar meu cartão do banco e percebi que havia esquecido ele em casa, no Flamengo. Essa estória de mulher trocar bolsas!! Eu costumo fazer mas não gosto, pois acabo me dando mal.

Peguei o carro de minha amiga e fui até minha casa.
Fui por volta das 14:20h. Chegando ali na Gávea entre o Clube do Flamengo e a Lagoa, num sinal fechado, veio em minha direção um velhinho com seus 70 e poucos anos. Era alto, magro, de feições muito gentis. Vestia uma roupa surrada e lembrava muito o meu avô paterno, pelo tom de sua pele... um tom acobreado. Ele me pediu esmola. Eu dei um sorriso, disse que não tinha e pedi desculpas. Então ele me falou: "Tem nada não minha filha, você é muito bonita! Que Deus te abençôe. Mas um dia, se você se lembrar, me traz um cobertor ou um casaquinho, que eu tô morrendo de frio viu." E sorriu de volta.

Eu vi que ele estava de camiseta sem manga e o céu, meio nublado. Pus minha mão pra fora do carro e vi que começava a esfriar e que o braço tão magrinho dele estava todo arrepiado.

Segui em frente, mas decidi que voltaria ali pra entregar o que ele havia me pedido. Lembrei que tinha em casa um casaco que não usava mais, e meio que já estava separado pra eu dar a alguém que precisasse.

Cheguei em casa, vendo que estava tudo em ordem, peguei meu cartão, juntei algumas coisas que não usava mais e pus em uma sacola: uma toalha desbotada, um lençol e... o casaco.

Voltando pra Barra, fui pela Lagoa novamente. Desta vez, um tanto ansiosa.
Fiz um enorme esforço para voltar àquele sinal onde estava o velhinho, pois precisei dar uma grande volta, sincronizando para que os outros carros me deixassem parar no exato lugar da primeira vez. Encostei logo que o sinal ficou vermelho. Pedi aos rapazes que vendiam balas que o chamassem. Ele veio, eu estendi o casaco e falei: "Olha aqui, pro senhor não sentir mais frio". Ele ficou entre a alegria e a grande surpresa! E me voltou um sorriso verdadeiro e sem dentes que eu nunca vou esquecer na minha vida! Dei o resto da sacola, falando o que continha dentro. Um rapaz encostou e me perguntou se eu não tinha nada pra dar pra ele também... Eu pedi desculpas e falei que o que eu havia trazido era só pro velhinho, que falou para o rapaz: "Eu pedi a ela e ela trouxe! Minha filha, Deus lhe abençôe! Minha filha, não sei nem como lhe agradecer!"

Trêmula, em meio à emoção, respondi:
"Agradeça vestindo o casaco, pra não passar mais frio".

Ele pegou minha mão e a beijou... eu beijei a mão dele... e comecei a chorar... ele passou a mão no meu rosto e disse: "Não chore não minha filha, Deus vai te iluminar pq você tem um coração muito bom" Com um brilho inesquecível nos olhos cansados pelas agruras da vida, ele falou mais uma porção de coisas e eu nem ouvia mais... só chorava... meus olhos enxergando de forma embaçada aquele sorriso aberto, sem pudor... sorriso de gratidão... meu coração aos pulos... um sentimento de paz invadindo minha alma sem pedir licença, provocando um turbilhão de emoções...
O vendedor de balas ao lado dele se enterneceu com a cena e ficou só olhando... olhando...

O barulho ensurdecedor da buzina dos carros me trouxe de volta à realidade. Tudo isso aconteceu durante o tempo em que o sinal esteve fechado. Em meio à agonia e desorientação do trânsito segui em frente, sem olhar pra trás, chorando que nem criança. Em vez de confortar alguém, fui confortada. Porém, passei o resto do dia recordando este episódio e chorando. Até hoje, ao lembrar da cena, inevitavelmente as lágrimas me visitam...

Fiquei com o cheiro do velhinho na minha mão. Cheiro de gente humilde e calejada. Lembrei-me do quanto tenho na minha vida: família, amigos, um amor, e uma estrutura de vida que apesar dos pesares, não me deixa passar nem perto daquela miséria toda que eu presenciei ali, na minha frente. E percebi que precisamos de tão pouco para sermos completos e realizados!

Não era nem para eu sair da casa de minha amiga naquela tarde... ter esquecido o cartão do banco em outra bolsa...

Quanto ao velhinho... nunca mais o vi. Confesso que ainda passei várias vezes pelo mesmo sinal, na esperança de reencontrá-lo, só para vislumbrar novamente aquele sábio sorriso. No meu íntimo, ele foi um anjo que me concedeu a honra de ser abençoada por sua presença iluminada.

Eu posso fazer uma idéia do quanto eu o ajudei naquele dia, com um sorriso e um casaco. Porém, ele nunca terá conhecimento do tanto de fé que ele depositou em mim, num simples gesto de gratidão. Nem ele esperava a minha volta e nem eu esperava ser tocada daquela maneira.

O tempo de um sinal vermelho é curto. Porém, dura o suficiente para conduzir alguém de volta à esperança de dias melhores. Portanto, antes de achar que sua vida é o mais completo fracasso, tente enxergar além do sinal fechado. E se você encontrar um velhinho com a mesma descrição da história que acabei de contar, recomendo que dê não um casaco, e sim, o seu melhor sorriso. E então você verá que fará a maior diferença do mundo.